sexta-feira, 14 de agosto de 2009

OH GOD THY SEA IS GREAT..MY BOAT SO SMALL "OH, DEUS, TEU MAR É TÃO GRANDE, E MEU BARCO É TÃO PEQUENO..."

"OH, DEUS, TEU MAR É TÃO GRANDE, E MEU BARCO É TÃO PEQUENO..."
OH GOD THY SEA IS GREAT..MY BOAT SO SMALL


Acabei de ver o Filme "Treze dias que abalaram o Mundo". Ele termina com essa frase sendo evidenciada, alusiva ao quanto nos sentimos pequenos, quando temos que tomar decisões que envolvem uma realidade complexa, assumindo os riscos por seus eventuais e ás vezes incontroláveis desdobramentos. Ora, há situações em que REALMENTE temos que tomar decisões, e elas TEM que ser as decisões CORRETAS. Como alguém já disse, entre DEUS e o diabo só há os HOMENS DE BOA VONTADE, termo este tomado em seu sentido geral, indicando os seres humanos, homens e mulheres de BEM, e que devem usar todos os recursos disponíveis para que prevaleça o caminho certo. E o caminho certo, com certeza, é aquele que beneficie ao maior número de pessoas de bem. Poderíamos chamá-lo de BEM COMUM. O fato é que surgem determinadas encruzilhadas, sejam políticas ou existenciais, em que o melhor caminho há de ser o que permita a conciliação pacífica de interesses, mesmo quando submetidos às mais diversas formas de pressão. Se chegamos hoje, no início do século XXI, a um estágio de desenvolvimento do espírito humano em que prevalecem as SOLUÇÕES PACÍFICAS, a priori, dos litígios que surgem, nas mais diversas modalidades do relacionamento humano, seja no seio familiar, seja no contexto das nações, é graças ao esforço de pessoas corajosas, que souberam escolher o lado RACIONAL em detrimento das opções precipitadas ou puramente emotivas, diante de situações cruciais, que tenderiam a nos conduzir ao aprofundamento de uma crise em curso ou à generalização de um conflito iminente. Pessoas que souberam nos conduzir ao desarmamento dos ânimos arrefecidos em prol de entendimento entre interesses opostos. Forçar a barra, ou partir para o ataque direto, excluindo as soluções negociáveis, encontra hoje barreiras mais sólidas, que se manifestam tanto nas leis em vigor, como nas mais elementares regras do trato social. Falando em linguagem coloquial, o tempo de simplesmente "partir para a porrada" acabou. Isso hoje se reflete tanto na maneira como os pais educam seus filhos, em que a imposição de castigos físicos é algo ilegal e imoral, passando pelo relacionamento entre os casais - em que as agressões ou crimes passionais se tornaram intoleráveis - quanto na maneira como grupos antagônicos - seja qual for sua dimensão - resolvem seus atritos. Torcidas organizadas, diferentes grupos étnicos, facções políticas ou religiosas, enfim, a regra em vigor é e deverá ser por bastante tempo, no mundo dito civilizado, a regra da PAZ. A imposição de condições só se justifica hoje quando e se embasada em critérios legais pre-determinados, como o uso da Força contra o crime, ou para submeter uma resistência manifestamente ilegal.

Vale terminar, citando Shakespeare:
"SONNET XVI

But wherefore do not you a mightier way
Make war upon this bloody tyrant, Time?
And fortify yourself in your decay
With means more blessed than my barren rhyme?
Now stand you on the top of happy hours,
And many maiden gardens yet unset
With virtuous wish would bear your living flowers,
Much liker than your painted counterfeit:
So should the lines of life that life repair,
Which this, Time's pencil, or my pupil pen,
Neither in inward worth nor outward fair,
Can make you live yourself in eyes of men.
To give away yourself keeps yourself still,
And you must live, drawn by your own sweet skill.

TRADUÇÃO:

SONETO XVI


Por que não usas meio mais viril
Ao guerrear, oh Tempo, o sanguinário?
E à tua decadência, mais que o vil
Poema, não provocas danos vários?
Agora estarias vivendo os teus amores
E diversos jardins, ainda intactos,
Germinariam tuas ricas flores,
Mais sinceras que teu próprio retrato.
Vê como então o herdeiro te repara,
Pois o pincel do Tempo ou minha pena
Teu mais alto valor e feição rara
Aos homens não provocam melhor cena.
E se ao mundo te dás, tua beleza
Assim persistirá por tal destreza."

FINALIZANDO, NÃO PODERIA DEIXAR DE REPRODUZIR:

"No, Time, thou shalt no boast that I do change!
Thy pyramids built up with newer might
To me are nothing novel, nothing strange;
They are but dressings of a former sight.

( Não, Tempo, não zombarás de minhas mudanças!
As pirâmides que novamente construíste
Não me parecem novas, nem estranhas;
Apenas as mesmas com novas vestimentas.)


Se adverte nestes versos uma alusão à doutrina do tempo circular, que professaram os pitagóricos e os estóicos e que Santo Agostinho refutou. Também pode advertir-se que Shakespeare descria de novidades.

Tecnicamente os sonetos de Shakespeare são, é indiscutível, inferiores aos de Milton, aos de Wordsworth, aos de Rossetti ou aos de Swinburne. Incidem em alegorias momentâneas, que só a rima justifica, e em engenhosidades nada engenhosas. Há, não obstante, uma diferença que não devo calar. Um soneto de Rossetti, digamos, é uma estrutura verbal, um belo objeto de palavras construído pelo poeta e que se interpõe entre ele e nós; os sonetos de Shakespeare são confidências que nunca acabaremos de decifrar, pois sentimos imediatas e necessárias.


Buenos Aires, treze de dezembro de 1980.

(excertos da introdução aos 48 Sonetos, traduzidos para o castelhano por Manuel Mújica Lainez)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A SOCIEDADE EXIGE UM NOVO PERFIL DE EDUCADOR

A SOCIEDADE EXIGE UM NOVO PERFIL DE EDUCADOR

Alexandre de Almeida Ferreira

O mundo atual confronta os educadores de duas maneiras: a primeira o educador deve reinventar a escola no sentido de ação educativa e a segunda, reinventar a si mesmo como educador. Desta maneira, a prática docente deve ser repensada, e de forma urgente, para que possa atender a todas as transformações que atingem a escola, suas concepções e suas formas de construção do saber, pois a exigência do mundo moderno tem a cada dia se tornado mais forte e intensa. Podemos então afirmar que a participação dos educadores é de fundamental importância na consolidação de mudanças que tragam uma melhoria da qualidade de ensino em nosso país.
Assim, hoje a necessidade de um novo perfil de educador se torna cada dia mais necessário, sendo que em nossa sociedade contemporânea as transformações no mundo, sejam nos avanços tecnológicos, nos meios da informação e comunicação, as relações exercem uma força brutal na sociedade, exigindo delas um posicionamento e a busca de um novo perfil frente aos desafios do que tem se chamado de pós-modernidade.
Em decorrência disso, a atividade docente vem se modificando para atender a essas transformações que atingem diretamente a instituição escolar, suas concepções, suas formas de construção do saber, pois há, sem dúvida alguma, uma mudança de paradigma que está a exigir um novo modelo de educação, e um novo perfil de educador que possam estar a serviço de uma escolarização de qualidade e atenda efetivamente, com eficiência a todas as crianças, jovens e adultos que demandam a instituição escolar. Deve-se também repensar a prática docente para fazer frente aos novos desafios. A arte da docência constitui um campo específico de intervenção profissional na prática social, assim, o desenvolvimento profissional dos educadores tem se constituído em objetivo de políticas que valorizam a sua formação não mais baseada na racionalidade técnica, muito difundida na década de 70, que os considerava como meros executores de decisões alheias, mas numa perspectiva que considera sua capacidade de decidir, seu protagonismo, sua ação compromissada ao desempenhar seu ofício.
O educador deve desenvolver uma práxis educativa como enunciada em Paulo Freire.


Ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”.(Freire, 1975, p.09)


Ou seja, isso significa que dentro do processo de conscientização ninguém aprende sozinho, mas sim em comunhão. Esse deve ser o trabalho do educador, esta junto com a sociedade, sentir aquilo que ela precisa buscar novas direções educativas para aquela realidade, se tornando assim um agente de transformação.
Portanto a participação dos educadores é de fundamental importância na consolidação de mudanças que tragam efetivamente uma melhoria da qualidade de ensino em nosso país. Sem ela, seu consentimento, seus saberes, seus valores, suas análises na definição de ensinar, de organizar e de gerir escolas, de propor mudanças nas formas de ensinar, de definir projetos educacionais e formas de trabalho pedagógico, quaisquer diretrizes, por melhores que sejam suas intenções, não se consolidam, não se efetivam. Sem o aval dos educadores, mudanças não se realizam. Por isso, não é qualquer um que pode ser educador. Por isso também não é qualquer educador que consegue fazer frente a esses desafios, pois é preciso que ele exerça sua função com dignidade, que não se esgota na formação inicial, pelo contrário está a exigir também, um processo de formação permanente que tomem a prática docente como fundamento para a reflexão, que desenvolvam no educador a postura de profissional reflexivo, pesquisador da própria prática, munido de formação teórica competente que o prepare para ver o mundo na sua globalidade e não de forma fragmentada, diz Pedro Demo.


Diante desses horizontes, salta aos olhos que necessitamos de uma educação muito diferente daquela usual. Em primeiro lugar, precisamos de educação que puxe o desenvolvimento, não que se arraste atrás, representando o atraso. Para tanto, carece corresponder ao desafio de manejar e produzir conhecimento, ou seja, deve superar a exclusividade da didática ensino-aprendizagem, tipicamente reprodutiva/transmissiva. Trata-se de superar a exclusividade, porquanto continua relevante a função da escola no sentido de socializar conhecimento disponível. (Demo, 1992, p.24)


O educador, seja da educação infantil, do ensino fundamental e médio ou do ensino superior, é um ser inserido num contexto social, que tem sua dimensão pessoal e sua dimensão profissional. Não podemos ver o educador como um ser descontextualizado, idealizado. Ele é um ser complexo e que não se desprende dessa complexidade quando entra na sala de aula. Ele é um ser real com contas a pagar, com problemas de toda ordem para enfrentar. Ele deve assumir seu ofício na inteireza do seu ser. É assim que devemos encarar o profissional da educação. Para mim, a docência da melhor qualidade se constitui a partir de cinco dimensões da competência que o professor deve desenvolver, são elas: dimensão profissional que deve dominar com propriedade sua área de atuação, a dimensão humana que podemos enfatizar as relações interpessoais, a dimensão ética que se relaciona com o respeito e solidariedade, um bem coletivo, dimensão social-politica, que podemos enfatizar os trabalhos de construção coletiva da sociedade e o exercício dos direitos e deveres, dimensão didático-pedagógica, que envolve o domínio dos processos de ensino aprendizagem, suas metodologias.
Portanto o desafio é grande, existem questões estruturais e conjunturais a enfrentar, mas, se acreditamos na tarefa da educação não podemos perder a esperança e mais do que isto, precisamos nos colocar a caminho e lutar para vê-la efetivada, concretizada.



Referências bibliográficas
FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da educação. São Paulo: Cortez e Moraes, 1979.
DEMO, Pedro. Desafios modernos da educação. Petropolis: Vozes, 1993.

Educação: Competência na Formação Educacional dos Educadores

Educação: Competência na Formação Educacional dos Educadores Alexandre de A. Ferreira

A Educação e Formação dos Educadores


Diante das crises evidentes que o mundo moderno vem demonstrando neste início de século, em todos os âmbitos do saber e do fazer humano, principalmente no âmbito da Educação, encontramos os conceitos de autonomia, emancipação e liberdade que nos remete mais uma vez a refletirmos sobre as novas competências para educação, novos entendimentos sobre aprender a conhecer que também é aprender e aprender e a aprender a fazer, que são umas das formas de relação e da ética pedagógica. Essa reflexão deve ocorrer para que possamos compreender e educar, ensinar a pensar sobre os diversos problemas existentes, diante dos diferentes contextos culturais de uma sociedade que se altera profundamente dia a dia em seus processos de socialização e de formação. Assim, para Jacques Delors, “A educação deve transmitir, de fato, de forma maciça e eficaz, cada vez mais saberes e saber-fazer evolutivos, adaptandos à civilização cognitiva. Pois são as bases das competências do futuro” (DELORS 1998, p.89). Assim também, Paulo Freire diz que o educador-professor deve desenvolver uma relação constante entre teoria e prática com seus educandos e jamais o professor pode ser um mero transmissor de conhecimento, mas sim um grande agente de transformação educacional.

“A prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre fazer. (...) Pensar certo – e saber que ensinar não é transferir conhecimento é fundamentalmente pensar certo” (FREIRE, 1996, p.43,54).

E é neste contexto que os autores Delors (1998) e Freire (1996) vem trazer uma reflexão, um modelo ideal de educação diante da pluralidade dos contextos sociais-educacionais que travam à multiplicidade e ao reconhecimento de um mundo transformador, onde o ato de “Educar” se torne novos moldes e técnicas, que se renovam, e constantemente, renovam os objetivos da educação. Portanto, dentro desta realidade que introduzimos aqui, sirva de base, auxílio e ponto de partida para reflexões, nos novos moldes do sistema educacional e de seus educadores, principalmente sobre a ética e competencia educacional, na busca de um desenvolvimento de novas potencialidades, para uma educação competente, dentro das novas exigências impostas pela cultura, ética e da cidadania. No decorrer da história, podemos constatar que os professores foram desenvolvendo, pelo seu papel em diferentes ocasiões que hoje é evidentemente encontrado em crise de desprestígio. Assim, neste contexto de educação vigente, entendemos a importância da formação educacional dos professores como uma necessidade que a cada dia, seja pelos meios públicos e gratuitos, seja pela incansável busca de diferentes recursos, através das pedagogias, de um sonho, esperança, autonomia, o meu eu individual, o eu pessoal e o eu social, segundo Martin Buber, deve ser transformado em Tu, e indo mais profundamente podemos nos perguntar: porque não, ser, Eu, Tu e Nós? .

Métodologia tradicional de ensino: é necessária se transformar

Visando atingir nossos objetivos, pauto-me agora em um grande educador, Paulo Freire, que procura ressaltar a necessidade de uma educação libertadora, autonoma e esperançosa para os educando como também para os professores. Existe atualmente a urgência de reformulação dos modelos tradicionais de formação docente no Brasil, não apenas entre pesquisadores, mas em toda sociedade. Somente a partir de um comprometimento dentro de uma relação dialógica e comunitaria, podemos reconhecer que tanto os educadores como os educandos, sofrem com o método do aprender por aprender e não aprender para aprender e viver. Só podemos pensar em mudança da prática docente se reformularmos a atuação junto aos professores e, para tal, a preparação profissional inicial ou continuada, constituem grande estratégia de formação do professor, desenvolvendo-lhe competências necessárias para atuar no novo cenário, posto que a maior parte das reformas educacionais que vêm sendo adotadas, contemplam a formação inicial dos professores, as medidas de aperfeiçoamento, os debates, a capacitação em serviço, embora somente estas medidas não sejam suficientes para atender e abranger amplamente a questão. Segundo Myrtes Alonso:
O professor necessita de muito mais do que uma intuição para proceder à reflexão sobre a sua prática: ele precisa estar preocupado com o aluno mais do que com o conhecimento a ser transmitido, com as suas reaçoes frente a esse conhecimento, com os seus propósitos em termos de ensino e aprendizagem e estar consciente de sua responsabilidade nesse processo. (MYRTES ALONSO, 1999 p. 15).

Para Freire a prática pedagógica do ensinar e aprender, deve ter uma relação de respeito para com os educandos, gerando assim a confiança e o aprendizado com base em uma reflexão teórico-crítica e prática. O educador a cada dia se forma, aprender ao ensinar. Segundo Freire:

“Há uma relação entre a alegria necessária á atividade educativa e a esperança. A esperança de que o professor e os alunos juntos podem aprender, ensinar, inquietar-nos, produzir e juntos igualmente resistir os obstáculos” (FREIRE, 1996 p. 80).

É necessário urgentemente que nossos educadores esteja em transformação educacional, se qualificando a cada dia para que a sua docencia nao se torne rotina e desgastante.

O conhecer do educador

O conhecimento pedagógico é construído e ampliado ao longo do tempo pelos profissionais da educação, durante sua vida profissional, como resultado das relações entre teoria e prática, ao passo que o conhecimento da disciplina requer mais técnica, focado nos procedimentos de transmissão. Já a competência profissional é fruto de todo processo educativo, mais a interação entre os professores e o exercício da profissão, com seus próprios alunos. Atualmente, a expectativa que se tem do papel do professor, é a de que ele intervenha, de forma ativa e reformule sua prática através de avaliações e estratégias diferenciadas, para, com métodos alternativos, atingir a urgente alteridade, com autonomia e participação, consciente e responsável. Antes de concluir é importânte dizer que agora é o momento de se refletir sobre a necessidade de se continuar a investir em educação, na formação do educador, para que a sociedade colha os frutos através da ação social de seus professores e alunos, como um produto final reerguendo valores de pátria, nação, tornando-a mais humana e humanizadora, com modelos de vida mais digna, mais feliz e mais respeitável, entre seus cidadãos

Conclusão

No novo contexto escola-sociedade todos crescem juntos: professor, escola, comunidade, com novos sistemas de trabalho, associando-se às escolas as idéias de núcleos, onde um conjunto de pessoas trabalham, não só desenvolvendo o professor, como novas aprendizagens do exercício da profissão docente. Com sólida formação cientifica e cultural, com domínio da língua, com conhecimentos tecnológicos, articulador de conteúdos educacionais, interdiciplinar, com profundos conhecimentos de sua área de atuação, que estabeleça relações de integração da sua com outras áreas do conhecimento, implantador de projetos, alguém que valorize quem apreende, visando à melhoria da aprendizagem, do conhecimento, das habilidades e competências dos educandos. Assim podemos finalizar este artigo definindo um “professor competente” através do caráter reflexivo, crítico e ético do educador.

Referências bibliográficas

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia – saberes necessários à prática educativa, 25ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1996.

DELORS, Jacques. Educação – Um tesouro a descobrir. Relatório para UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, São Paulo, 1998.

ALONSO, Myrtes. Formar Professores Para uma Nova Escola. São Paulo ed. Pioneira, 1999

O EXISTENCIALISMO E HUMANISMO DE SARTRE.

Jean-Paul Sartre, nascido em 21 de Junho de 1905.e faleceu em 15/04/1982 em Paris. É considerado o filósofo mais popular do existencialismo.
Sartre afirma que o existencialismo é um humanismo, pois segundo ele, é a única doutrina que deixa uma possibilidade de escolha ao homem, assim o existencialismo é considerado por Sartre como uma “doutrina optimista”, pois ele afirma que o destino do homem está nele próprio e que o homem só pode confiar na sua ação é só pode viver dela. (Abbagnano, 1970.
Sartre inicia seus argumentação explicando que existem duas espécies de existencialistas: os cristãos e os ateus, que teriam em comum o fato de admitirem que a existência precede a essência ou, em outras palavras, que temos de partir da subjetividade. Segundo Sartre, não há determinismo em relação à realidade humana, isto é, somente a liberdade é determinante. O homem, numa escolha livre e situada, faz a si mesmo. Não há, portanto, uma natureza humana. É a célebre afirmação de “a existência precede a essência”. A visão tradicional da concepção do homem era imaginando Deus como um artífice superior que, antes de criar o ser humano, já tinha em mente o conceito do Homem, como pode ser visto na filosofia de Descartes e Leibniz. No século XVIII, para o ateísmo dos filósofos, suprimia-se a noção de Deus, mas não a idéia de que a essência precede a existência. Segundo Sartre o existencialismo ateu é mais coerente. Ele declara que Deus não existe e que a existência precede a essência. Logo os seres existem antes de poderem ser definidos por qualquer conceito. Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. Assim, não há natureza humana visto que não há Deus para a conceber. Sendo assim, o homem não é mais do que o que ele faz, porque o homem, antes de mais nada, é o que se lança para um futuro, e o que é consciente de se projetar no futuro. O homem é antes de mais nada um projeto que se vive subjetivamente; nada existe anteriormente a este projeto; nada há no céu inteligível, o homem será antes de mais o que tiver projetado ser. Assim o primeiro esforço do existencialismo, segundo Sartre, é o de pôr todo homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência.
Para ele, o homem é pura angústia. Mas na decisão de escolha do homem é onde se situa fundamentalmente essa angústia. O homem não pode escapar dessa escolha pois se vê nesse compromisso (se o homem nada escolhe, sua escolha é não escolher).
Outra afirmação realizada pelo existencialista é a de que o homem está desamparado; desamparado de um Deus universal. Para o existencialista, é muito incomodativo que Deus não exista, porque desaparece com ele toda a possibilidade de achar valores num céu inteligível; não pode existir já o bem a priori, visto não haver já uma consciência infinita e perfeita para pensá-lo. A partir disso, devido a falta de valores, tudo é permitido ao homem se Deus não existe, ou seja, estamos sozinhos, e portanto, o homem é livre.
O desespero humano vem do fato do homem não se limitar apenas a contar com o que depende da sua vontade, ou com o conjunto das probabilidades que tornam a sua ação possível. A partir do momento em que as possibilidades que considero não são rigorosamente determinadas pela minha ação, devo desinteressar-me, porque nenhum Deus, nenhum desígnio pode adaptar o mundo e os seus possíveis à minha vontade.
Isso não quer dizer que o homem deva calar-se numa atitude de quietismo, mas que ele não deve ter ilusões. Para Sartre, o existencialismo não é uma filosofia do quietismo, visto que define o homem pela ação pois, como o homem não é senão o seu projeto, ele só existe na medida em que se realiza ou age. Para ele, o existencialismo é uma doutrina de dureza otimista e não de pessimismo, visto que o destino do homem está nas suas mãos, e também, porque ela o impele à ação.
Isso se dá principalmente, segundo Sartre, porque o ponto de partida de qualquer filosofia deve ser o "penso, logo, existo", o “cogito” cartesiano. Ele argumenta que, iniciando com a subjetividade, o homem não é mais visto como um objeto, conferindo-lhe uma verdadeira dignidade, o que mostra a diferença entre o existencialismo e o materialismo.
Nestas condições, a descoberta da minha intimidade descobre-me ao mesmo tempo o outro como uma liberdade posta em face de mim (já que também sou livre), que nada pensa ou quer senão a favor ou contra mim. Assim, descobre-se imediatamente um mundo que Sartre chamou de “intersubjetividade”, sendo neste mundo onde o homem decide sobre o que ele é e o que os outros são. Desta forma, todo projeto, por mais individual que seja, tem um valor universal, e é compreensível para todo homem, não definindo-o, mas podendo ser reconhecido. Neste sentido, pode-se dizer que há uma universalidade do homem; mas ela não é dada, é indefinidamente construída. Constrói-se o universal, escolhendo-se, compreendendo o projeto de qualquer outro homem, seja qual for a sua época.
Sartre argumenta ainda que a escolha do homem não tem nada a ver com caprichos, ele escolhe sem se referir a valores pré-estabelecidos, mas os valores se descobrem na coerência de sua vida, nas relações entre a vontade de ação e o resultado da ação, como no processo de construção de uma obra de arte. Sartre nos diz que, se alguma vez o homem reconheceu que estabelece valores em seu abandono, ele já não pode querer senão uma coisa: a liberdade como fundamento de todos os valores. O homem quer a liberdade, não de uma forma abstrata, mas concretamente. E, por causa do compromisso e da descoberta do outro, o homem é obrigado a querer, não só a sua liberdade, mas também a dos outros.
Assim, o resultado é sempre concreto e, por conseguinte, imprevisível: há sempre invenção. A única coisa que importa é saber se, a invenção que se faz, se faz em nome da liberdade, caracterizando a boa fé. Sartre foi muito criticado pelos que diziam que no fundo os valores não são sérios, visto que o homem os escolhe. Isso se dá pela falta de uma consciência perfeita para definir a importância de tais valores. Nesse ponto, Sartre inicia sua argumentação dizendo que inventar os valores significa que a vida não tem sentido a priori. Ou seja, antes de viver, a vida não é nada, mas depende do homem dar-lhe um sentido, possibilitando a criação de uma comunidade humana.
É nesse momento em que Sartre afirma que o existencialismo é um humanismo, mas não no sentido comum dessa palavra. Para ele, existem dois significados para a palavra humanismo: A primeira consiste de uma teoria que toma o homem como fim e como valor superior. Esta opção é rejeitada pelo existencialista, porque o homem está sempre por se fazer. A segunda consiste do humanismo existencialista. Sartre afirma que o existencialismo é um humanismo porque lembra ao homem que não há outro legislador além dele próprio, e que é no abandono que ele decidirá de si. Porque não há outro universo senão o universo humano, o universo da subjetividade humana, além disso, porque o estimulante de sua existência é a transcendência, ou seja, é fora de si que ele vê um fim, um objetivo (a ação), que é libertação.
Sartre conclui afirmando que o existencialismo é um esforço para tirar todas as conseqüências de uma posição atéia coerente. O seu objetivo não é mergulhar o homem no desespero, mas ele parte do desespero original do homem, que é a atitude de descrença. Segundo Sartre, o existencialismo não é um ateísmo no sentido de que se esforça por demonstrar que Deus não existe. Ele afirma que o problema não está em sua existência, mas que o homem deve se reencontrar e se convencer de que nada pode salvá-lo de si mesmo, nem mesmo uma prova válida da existência de Deus.

Exposição da Republica de Platão

BIOGRAFIA

(1126-1198) Filósofo, nascido em Córdoba, Espanha

Foi um dos célebres filósofos árabes da Idade Média. A despeito de ter nascido em Córdoba, seu processo de aculturação sofreu forte influência muçulmana, vigente naquela época em toda a Espanha e que predominou por aproximadamente oito séculos. Nesse período, a cultura árabe, tanto filosófica quanto científica e literária, conheceu algumas de suas mais brilhantes épocas. Jurista, médico, mas sobretudo um grande comentador de Aristóteles, sua influência na Idade Média e mesmo até o início da era moderna foi considerável. Averróis reúne em suas obras quase tudo o que os árabes tinham conservado da ciência grega. Contra Algazel e outros teóricos muçulmanos, que pregavam a "destruição dos filósofos", Averróis escreve a Destruição da Destruição, na qual tenta harmonizar a filosofia com a religião, reabilitar a razão e defender a tese segundo a qual só há um intelecto para todo o gênero humano, sendo as almas individuais perecíveis. Defende ainda a eternidade do mundo, conseqüentemente a eternidade da matéria; Deus os criou desde toda eternidade; todas as coisas criadas, inclusive o homem, procedem de Deus por emanação. Os escolásticos, especialmente Santo Tomás de Aquino, vão combater as teses averroístas de um intelecto agente único, da eternidade da matéria e da dupla verdade (o que é verdadeiro em teologia pode ser falso em filosofia e vice-versa). Seus escritos filosóficos dividem-se em dois grupos: os comentários sobre as obras de Aristóteles e as obras independentes. Os comentários dividem-se em: os grandes comentários, onde o texto de Aristóteles é reproduzido por inteiro e comentado parágrafo por parágrafo; os comentários médios, livres paráfrases do texto, sem seguir rigorosamente o original e fazendo, às vezes, omissões; e epítomes, que são simples resumos sem relação com o texto. Entre os comentários, os mais importantes são: Metafísica, De Anima, De Caelo e a Retórica. Averróis parafraseou também a República de Platão. Entre as obras independentes, destacam-se: Destruição da Destruição, Concordância entre a Religião e a Filosofia e A Exposição de Demonstração nos Dogmas da Religião.


Vemos neste tratado primeiro, a intenção de expor as doutrinas cientificas de Platão que estão contidas na obra A Republica.
O objeto desta ciência é o pensar volitivo, na qual o controle está em nossas forças. Ao contrário da ciência prática que é exclusivamente ação, e suas partes diferem em razão de sua proximidade à referida ação.
Quanto ao tema, objeto e partes, á ciência ocupa principalmente do mais geral, que é a mais distante da operação ativa concreta e o menos geral que é o mais próximo. Na medicina a parte foi dividida em duas, primeira, arte da medicina cientifica e outra como pratica e com isso esse saber ético foi dividida em duas partes: 1) costumes e hábitos: que estabelece a mutua correlação das condutas, 2) se conhece como de que se organizam os costumes, cujo entrelaçamento e o comportamento é perfeito.
A perfeição humana procede de quatro gêneros: virtudes teóricas, virtudes dianoéticas, virtudes éticas e perícia nas artes praticas, que servem de base para o estabelecimento dos princípios que se utilizam para determinar a razão de seu fim, podendo-se tomar como um principio aceitável e assim encontra-las realizadas separadamente.

Assim, as virtudes nos homens e na sociedade possuem conhecimentos próprios da sua virtude; virtudes como: sabedoria, fortaleza, justiça e temperança. Nessas virtudes podemos separá-las em três, sendo a primeira a virtude das condições, a segunda, aperfeiçoamento no espírito jovem e a terceira, conhecimento. Com essas virtudes os cidadãos podem desenvolver ou não, pois neles o conhecimento das ciências teóricas está associado a uma larga experiência.
Assim podemos dizer que Platão inicia o desenvolvimento dialético a partir da fortaleza, que são duas: a primeira consiste no enraizamento das opiniões por meio da dialética, da retórica e da política, limitada ao saber teórico apresentado para o comum dos humanos; o segundo caminho aplica aos inimigos, adversários não podendo ser aplicado aos membros da sociedade virtuosa. A mera instrução efetiva chamada de arte bíblica; formação militar não virtuosa não é autenticamente humana. É semelhante o caminho seguido também pelos governantes das sociedades injustas.
Já a prudência em A Republica, Platão quer mostrar a natureza da justiça. Uma comunidade prudente, valorosa, moderada e justa é evidente que essa sociedade deve ser sábia e possuidora de conhecimento, uma compreensão prudente das leis. O grupo de cidadãos nos quais a sabedoria se desenvolve é a mais pequena das classes ou seja, os filósofos já que a chefia desta sociedade pertence necessariamente aos sábios.
Outra virtude, a fortaleza que é exposta à manutenção das idéias em seu desenvolvimento e sua salvaguarda em qualquer caso de pressão e de fraqueza, por pressão, medo e temor, por fraqueza e paixões.
O mesmo acontece nos casos dos guardiões, se suas naturezas não forem bem escolhidas poderão ser apagadas de sua alma e haverão de perder-se, pois o prazer das virtudes é mais forte.

A classe da sociedade se assenta e se fundamenta esta virtude plutocrática ou a artesã, fortes ou débeis exclusivamente em razão das classes dos guardiões. Outra virtude, a temperança é o equilíbrio na comida, na bebida e no sexo, um meio termo frente aos prazeres e ao desejo moderado que possui maior poder e força do que de fato possui. O homem possui uma parte nobre, a saber, a razão e uma parte ruim, ou seja, a alma concupiscível.
Assim contem a multidão em geral, pois nenhuma atividade pode ser dominada a não ser pela temperança, com a sabedoria e a fortaleza que correspondem a um grupo determinado ao contrario da virtude temperança que deve ser desenvolvida em toda sociedade.
Outra virtude, a justiça; cada homem se dedique a uma só das atividades sociais; a justiça política. Tudo que for justo e eqüitativo na alma individual o é também na sociedade concreta.

Platão afirma que a equidade social consiste no equilíbrio das três naturezas: racional, irascível e a concupiscível.
A parte racional governa porque é sábia e está auxiliada por toda a alma, a parte irascível, porque é obediente e está submetida àquela e iluminada por ela para lutar contra a parte concupiscível.
Já pela harmonia da alma individual por meio da musica e da ginástica, desenvolve a fortaleza da alma irascível enquanto a musica a modera, submetendo-a a razão disciplinando-as.
O individuo valoroso é o que sempre respeita o que a razão ordena e manda, o individuo prudente rege sempre as demais partes, e a temperança individual corresponde à moderação da sociedade perfeita.
A virtude é um tipo de saúde e beleza e o vicio uma espécie de enfermidade. A saúde é uma a virtude é una e a sociedade é virtuosa.

Epicuro - carta a felicidade

Epicuro - carta a felicidade

Introdução

Epicuro nasceu em 341 a.C., na ilha grega de Samos, mas sempre ostentou a cidadania ateniense herdada pelo pai emigrante.
Em Samos, ele passou a infância e a juventude, iniciando seus estudos de filosofia com o acadêmico Plânfilo, filósofo platônico cujas lições seguiu dos 14 ao 18 anos. Ao atingir essa idade Epicuro transfere-se para Atenas para cumprir os dois anos obrigatórios do treinamento militar destinado aos febos. Em 306 a.C. ele adquire uma ampla casa com um amplo jardim onde abriu sua famosa escola em Atenas, logo conhecida como “O Jardim de Epicuro”
Epicuro faleceu em 270 a.C., aos setenta e dois anos de idade, e foi seu fiel discípulo Hemarco quem o sucedeu na direção da escola. A carta a Meneceu, de Epicuro, é mais conhecida como Carta sobre a felicidade tendo em vista atingir a tão almejada “saúde do Espirito”.
Tem como meta atingir a felicidade do homem, a começar pela crença na existência dos deuses, considerados imortais e bem aventurados.
Em outro tópico é apresentada a morte, como o mais aterrador dos males.
Para Epicuro vencer o medo da morte é necessário, pois o importante é a qualidade de vida e não a duração. Já o desejo é acompanhado das grandes necessidades, do cuidado do corpo e da tranqüilidade do espirito. O prazer como bem principal é inato, não é algo que deva ser buscado a todo custo.
E finalmente o homem sábio jamais deve acreditar cegamente no destino e na sorte como se estes fossem fatalidades inexoráveis e sem esperança, despontando aqui a sua crença na vontade e na liberdade do homem.

Carta sobre a felicidade

A filosofia é útil a todos não importando a idade, seja para o jovem ou para o velho.


“ que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de faze-lo depois de velho, por ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito.(Epicuro, carta sobre a felicidade, pág.21).


A filosofia nos traz ao envelhecer a recordação das coisas que já se foram e enquanto jovem as coisa que virão. É necessário cuidar das coisas que trazem a felicidade, Epicuro da seus ensinamentos e diz: “pratica e cultiva os ensinamentos que sempre vos transmiti, na certeza de que eles constituem os elementos fundamentais para uma vida feliz.” (Epicuro, carta sobre a felicidade, pág.23).

Epicuro traz em primeiro lugar a sua consideração as divindades como um ente imortal não podendo contribuir a ela nada que seja incompatível com sua imortalidade. Os deuses de fato existem e é evidente o conhecimento que temos deles. Surge então a crença que os deuses trazem malefícios, quando o ímpio atribui aos deuses os falsos juízos. Daí a crença de que os deuses causam os maiores malefícios aos maus e maiores benefícios aos bons.
Epicuro também nos traz a idéia de que a morte para nós não é nada.

“A morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações.” (Epicuro, Carta sobre a felicidade, pág.27).

Aquele que não tem medo de morrer, está convencido que não há nada de terrível em deixar de viver, por isso Epicuro diz que a morte é chegada pois aflige a própria espera, e aquele que está preparado para receber não fica afligido pois não tem o medo da morte, visando ele a imortalidade do espirito.

“Quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrario, quando a morte está presente, nós é que não estamos.A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que aqueles, ela não existe, ao passo que este não estão nem aqui.” (Epicuro, Carta sobre a felicidade, pág.29).


Ser um homem sábio é ser um homem que sabe viver bem, sem medo do que há por vir, para um homem sábio viver não é um fardo e o não viver não se torna um mal. O viver para Epicuro tem um sentido muito grande e bonito quanto a vida. Mesmo sabendo que o futuro não é nosso, o homem é livre.

A escolha pelo prazer se têm, a natural e a necessária ambas caminhando juntas.
Só sentimos prazer quando sofremos pela sua ausência.
“O prazer é o inicio e o fim da vida”.( Epicuro, Carta sobre a felicidade, pág.37).

Más não escolhemos qualquer prazer, embora seja ela inato.

Saber avaliar a dor e o prazer é o grande critério para atingir a felicidade.


“Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos aos prazeres intemperantes ou aos que consistem no gozo dos sentidos,... mas o prazer é a ausência de sofrimentos físicos e de perturbações da alma.” (Epicuro, Carta sobre a felicidade, pág.41).


“Medita, pois todas esta coisas e muitas outras a elas congêneres, dia e noite, contigo mesmo e com teus semelhantes, e nunca mais te sentirás perturbado, que acordado, quer dormindo, mas viverás como um deus entre os homens. Pois não se assemelha absolutamente a um mortal o homem que vive entre bens imortais.” Epicuro, Carta sobre a felicidade, pág.48).

A filosofia, para Epicuro, deveria servir ao homem como instrumento de libertação e como via de acesso à verdadeira felicidade. Está consistiria na serenidade de espírito que advém da consciência de que é ao homem que compete conseguir o domínio de si mesmo.
Com sua concepção da realidade, Epicuro pretende libertar o homem dos dois temores que o impediram de encontrar a felicidade: o medo dos deuses e o temor da morte. Os deuses existem, afirma Epicuro, mas seriam seres perfeitos que não se misturam às imperfeições e as vicissitudes da vida humana.
Quanto à morte, não há também porque teme-la. A morte, portanto, não existe enquanto o homem vive e este não existe mais quando ela sobrevém.
Epicuro afirma que o prazer que o homem deve buscar não é o da pura satisfação física imediata e mutável. Para Epicuro o prazer que deve nortear a conduta humana é constituído pela ausência de perturbação e pela ausência de dor, ambas podem ser alcançadas na medida em que o homem, através do autodomínio, busque a auto-suficiência que o torne um ser que tem em si mesmo sua própria lei, capaz de ser feliz e sereno independentemente das circunstâncias.



Bibliografia

Epicuro. Carta sobre a felicidade: (a Meneceu) / Epicuro: tradução e apresentação de Álvaro Lorencine e Enzo Del Carrote. – São Paulo: Editora Unesp, 2002.

Descartes - Discurso do Método

Biografia

René Descartes (latinizado Cartesius) nasceu em La Haye, na Touraine, em 31 de março de 1596. De família nobre – seu pai Joaquim era conselheiro no Parlamento Bretanha, logo foi enviado ao colégio jesuíta de La Flèch, em Anjou, uma das mais célebres escola da época, onde recebeu uma forte formação filosófica e cientifica. Teve depois da licenciatura em direito pela Universidade de Poitiers. de 1618 a 1620 se arrolou em vários exércitos que participavam da Guerra dos Trinta Anos; em novembro de 1619 teve uma “revelação intelectual” a respeito dos fundamentos de nova ciência: a intuição foi desenvolvida mais à frente sobretudo nas incompletas Regras para a guia do intelecto (1627-1628). De 1629 a 1649 viveu na Holanda, onde publicou suas obras mais importantes: O Discurso sobre o Método (1637), as Meditações Metafísicas (junto com as Respostas às objeções, 1641), os Princípios de Filosofia (1644) e as Paixões da Alma (1649). Em 1649 aceitou o convite da Rainha Cristina da Suécia e deixou definitivamente a Holanda, mas em Fevereiro de 1650 foi acometido de uma pneumonia que em uma semana o levou à morte. Seus despojos, transladado para a França em 1667, repousam na Igreja de Saint-Germain-des-Prés, em Paris. Descartes foi o fundador da Filosofia Moderna tanto do ponto de vista das temáticas como do ponto de vista da exposição metodológicas.

Discurso

Na Primeira parte do Discurso sobre Método, de René Descartes,é trazida a questão da metodologia, que é capaz de instituir, controlar e ordenar as idéias existentes e guiar a busca da verdade e discernir oque é verdade ou falso, oque é bom senso ou razão.
Diante de uma formação rigorosa no colégio jesuíta La Fleche, aonde inspirado nos princípios da filosofia Escolástica, considerada a mais válida defesa da religião católica, Descarte se sente insatisfeito e confuso pela ausência de uma séria metodologia, que assim, poderia ordenar as idéias existentes e guiar a busca da verdade, mesmo sendo um colégio aberto para o estudo da matemática, ciências.
Assim Descartes desenvolveu em si a própria razão, o auto-conhecimento.


“Quanto a mim, nunca supus que meu espírito fosse em nada mais perfeito do que os dos outros; com freqüência desejei ter o pensamento tão rápido, ou a imaginação tão clara e diferente, ou a memória tão abrangente ou tão pronta, quanto alguns outros.” p.35.

Nesse aperfeiçoamento de espírito, ou seja, do seu interior (autoconhecimento), Descartes diz que a única coisa que nos torna homens e nos diferencia dos animais é a razão e o autoconhecimento.
Descartes diz claramente na primeira parte a descoberta de si mesmo, mas deixa claro que o seu propósito não é de forçar ou ensinar o seu método para que todos os outros sigam sua razão, e sim para mostrar o seu esforço na qual se fez para conduzir a sua.
A descoberta de si durante a sua formação na escola de La Fleche, não foi por ele desprezada, mas foram necessárias ao entendimento, crescimento e juízo.
Com um bom filósofo e matemático, Descartes diz que a Teologia ensina a ganhar o céu e a filosofia ensina falar com coerência de todas as coisa. “..., que a Teologia ensina a ganhar o céu; que a filosofia ensina a falar com coerência de todas as coisas e de se fazer admirar pelos que possuem menos erudição...” p.38.
Descartes diz que sobre nenhuma ciência é possível construir nem a ‘’filosofia ou a teologia’’. “ A respeito das outras ciências, por tomarem seus princípios da filosofia, acreditava que nada de sólido se podia construir sobre alicerces tão pouco firmes.
Diante de toda a sua descoberta interior, de uma filosofia, de uma ciência, de um método, ele sempre teve um grande desejo de aprender a diferenciar oque é verdadeiro e falso para que assim nitidamente possa enxergar suas ações e assim podendo caminhar com toda a segurança na vida. O novo método que é apresentado como o inicio de um novo saber, sendo assim não apenas lançar uma discussão sobre o saber e sim um fundamento do próprio saber, nisso Descartes não separa a filosofia da ciência. Podendo assim concluir que: A formação dogmática “não deu resposta”. A busca no mundo foi a deparação da diversidade que o levou a questionar. E o autoconhecimento que desenvolveu a própria razão.
Diante de toda a sua descoberta interior, de uma filosofia, de uma ciência, de um método, ele sempre teve um grande desejo de aprender a diferenciar oque é verdadeiro e falso para que assim nitidamente possa enxergar suas ações e assim podendo caminhar com toda a segurança na vida. O novo método que é apresentado como o inicio de um novo saber, sendo assim não apenas lançar uma discussão sobre o saber e sim um fundamento do próprio saber, nisso Descartes não separa a filosofia da ciência. Podendo assim concluir que: A formação dogmática “não deu resposta”. A busca no mundo foi a deparação da diversidade que o levou a questionar. E o autoconhecimento que desenvolveu a própria razão.


DESCARTES, René. Discurso do Método. Coleção os Pensadores, pág. 35 – 42. edição, 1999 São Paulo. Editora Nova Cultural Ltda.

REALE, Giovanni . Historia da Filosofia: do Humanismo a Descartes, v. 3 / Giovanni Reale, Dario Antiseri; [tradução Ivo Storniolo]. – São Paulo: Paulus, 2004.

REALE, Giovanni . Historia da Filosofia: do Humanismo a Descartes, v. 3 / Giovanni Reale, Dario Antiseri; [tradução Ivo Storniolo]. – São Paulo: Paulus, 2004.

David Hume. Investigação Sobre o Entendimento Humano

David Hume. Investigação Sobre o Entendimento Humano

Filósofo e historiador britânico, David Hume (1711-1776) nasceu na Escócia. Sua filosofia – por meio da influência de Berkeley -, desenvolveu a doutrina de Locke, e chegou a um total cepticismo. Precisamente esta atitude cética seria o ferrão que mais tarde acordaria a Kant do “sonho do dogmatismo”.
Depois de finalizar seus estudos, decidiu viajar para dilatar o horizonte de suas idéias, e assim o encontramos na Flèch (França), onde à sombra de Descartes, redigiu seu Tratado da natureza humana (em 1734 publicou os dois primeiros livros e em 1740 o terceiro). Em 1752, a seu regresso a Grã-Bretanha, foi nomeado bibliotecário na Advocacia de Edimburgo. Entre tanto ia reelaborando a matéria do Tratado; nascia assim Investigações Sobre o Entendimento Humano (Phylosophycal Eassays Concerning Human Understanding, 1748).
Depois de uma penosa doença levada com inteireza de ânimo, morreu em Edimburgo, a mesma cidade onde tinha nascido.

Principais Obras;

Tratado da Natureza Humana/ Ensaio, Política e Moral/ Investigação Sobre o Entendimento Humano/ Dos Tipos Nacionais/ Uma Investigação Sobre Princípios Morais/ Discursos Políticos/ Quatro Dissertações/ Um Relato Conciso e Genuíno da Disputa Entre o Sr. Hume e o Sr. Rousseau/ A Vida de David Hume Escrita por Ele Mesmo/ Diálogos Sobre a Religião Natural/ *História da Inglaterra.
A "Investigação Sobre o Entendimento Humano" é uma forma de definir os princípios do conhecimento humano. Hume nos apresenta de forma lógica as importantes questões sobre a natureza de todo raciocínio. O fundamento aqui exposto, é uma classificação dos objetos da consciência: impressões e idéias. Hume Chega a conclusão que de que tudo o que contem nossa mente são percepções. Percepções que poderão ser impressões e idéias.


“... As idéias das primeiras, sendo sensíveis, são sempre claras e distintas; assim a menor diferença entre elas é imediatamente perceptível e, ademais os mesmos termos exprimem sempre as mesmas idéias sem ambigüidade ou variação.” (Hume, p-77).


Esse conhecimento divide-se em "impressões" (dados fornecidos pelos sentidos tanto internos, quanto externos) e “idéias” (representações da memória das impressões).
Hume diz que devemos examinar claramente as impressões para descobri-las com maior segurança. Ele nos coloca que o principal obstáculo para nosso aperfeiçoamento é a obscuridade, e diz que tentaremos estabelecer, removendo uma parte desta obscuridade.


“O principal obstáculo para o nosso aperfeiçoamento nas ciências morais e metafísicas consiste na obscuridade das idéias e na ambigüidade dos termos”. (Ibdem, p-78).


“Não há idéia obscuras e incertas em metafísica do que as de poder, força, energia ou conexão necessária, às quais necessitamos reporta-nos constantemente em todas s nossas inquirições”. (Ibdem, p-78).

As idéias podem associar-se por semelhança (entre as impressões que representam), contigüidade espacial e temporal, e causalidade. De acordo com Hume, quando examinamos nossa idéia de uma coisa individual, tudo que encontramos são as idéias simples que se juntam para formar uma idéia complexa. Ele mudou a atenção da filosofia das "substâncias" e "propriedades" próprias, para as "relações". Tomando, por exemplo, duas maçãs, uma é mais vermelha que a outra, uma está mais próxima de mim, provando as duas uma é doce, a outra menos, maior e menor. Destas coisas tudo que a mente contem são, em primeiro lugar, ou "impressões", dados finais da sensação ou da consciência interna, ou idéias, derivadas dos dados por composição, transposição, aumento ou diminuição. Isto equivale a dizer que o homem não cria qualquer idéia. Disto Hume infere uma teoria do significado: uma palavra que não corresponde diretamente a uma impressão só tem significado se ela traz à mente um objeto que pode ser apreendido de uma impressão.
Devemos notar que Hume não distingue o sentimento como uma forma particular de conhecimento. Todos os objetos de consciência são ou "relações de idéias" ou "matérias de fato" como impressões.

“Portanto, devemos conhecer tanto a causa como o efeito e a relação entre eles” (Ibdem, p-84).

Hume coloca, que a todo o momento nós temos a consciência de nosso poder interno, seria aí um ato volitivo tratando-se de que podemos mover os órgãos de nosso corpo ou governar nossas faculdades espirituais.
Sendo assim adquirimos a idéia de poder ou de energia e que somos inteligentes e dotados deste poder.


“Pela mera ordem de nossa vontade, podemos mover os órgãos de nosso corpo ou governar nossas faculdades espirituais”. (Ibdem, p – 81).

Mas em toda essa teoria, Hume também diz que não somos capazes de mover todos os órgãos do corpo com a mesma autoridade, a exemplo disso ele coloca a diferença de mover os dedos à língua e outras partes do corpo através da vontade, mas não temos o mesmo controle sobre o coração ou o fígado.

“Afirmaremos, pois que somos conscientes de um poder ou energia de nossos espíritos quando, por um ato ou ordem de nossa vontade suscitamos uma nova idéia”. (Ibdem, p – 83).


Para concluir Hume diz que toda idéia é copiada de uma impressão ou de uma sensação precedentes; se não podemos localizar a impressão, podemos assegurar-nos de que não há idéia.

Devemos aspirar e reservar este ponto de vista, para a oportunidade mais adequada” (Ibdem, p - 93).

Filosofia da Religião - um breve contexto

Filosofia da Religião

A religião é estudada por diversas áreas da ciência, pela psicologia, fenomenologia, psicanálise e pela sociologia. Essas ciências estudam a consciência religiosa na história. Em outras palavras estudam a consciência do ser humano. Nisso a filosofia da religião se torna uma reflexão a realizar com a ajuda da razão. Disso a filosofia nasceu, como sabemos, na antiga Grécia, como atitude de critica na vida concreta do ser humano. Ela nasceu com a possibilidade de formular a questão da verdade desta vida. Com isso a religião fazia parte desta vida concreta. A filosofia da religião como disciplina própria é recente e não se confunde com a teologia, pois esta tematiza a relação homem-Deus a partir da liberdade de revelação de Deus ao homem, ou seja, a partir de Deus. Já na filosofia, quando o homem filosofa ele mesmo pensa e nisso o pensar filosófico é forma radical da liberdade humana. A religião é um dado que está presente e não se funda na filosofia. Não é filosofia. A filosofia da religião tem a religião como objeto de seu pensar.

A filosofia da religião atualmente se encontra em situação precária dentro do conjunto social.Trata-se de indagação filosófica que usa métodos filosóficos com objetivos filosóficos. Cabe então a investigar o fenômeno religioso.

Na década de 60 foi assistido um eclipse do sagrado, “fim do monopólio das tradições religiosas”. A religião adapta-se ao modo da sociedade capitalista e neoliberal, mergulhando-se no secularismo e ocultamento religioso. As décadas seguintes vão mostrar que tal ocultamento se oculta, abrindo espaço a um espasmo religioso que nos atinge fortemente.

Assim instaura-se até mesmo um regime de concorrência religiosa entre as novas formas religiosas. Elas recorrem ao recurso da divulgação, marketing moderno, gerando assim um grande pluralismo religioso.

Surgem então várias expressões religiosas e movimento.

A exemplo disso surgem as comunidades de base (Teologia da Libertação) dentro da Igreja Católica. Uma espiritualidade voltada para os pobres e de critica ao capitalismo. Criando-se um movimento que se expandiu, articulando com a fé e política. (hoje a teologia da libertação está enfraquecida, segundo Dom Odilo Scheler, Arcebispo de São Paulo em entrevista ao Jornal a Folha de São Paulo).

Nos Estados Unidos desenvolve-se um corrente religiosa neo-conservadora com o intuito de salvar a sociedade capitalista de sua crise cultural, espiritual e religiosa.

Na América Latina, décadas anteriores foram agitadas pelo movimento libertador. Os Jovens entregaram-se generosamente a uma militância ardorosa. Decepcionados pelo resultado, os jovens perderam os sonhos utópicos e acomodaram-se numa vida burguesa. Nesse meio da pós-modernidade cética, a religião é chamada a cumprir várias funções.

Ela oferece segurança e paz contra a insegurança e angustia do futuro, leva a uma resignação diante da inexorabilidade do processo histórico. Isso exatamente como dizia Marx: “ópio do povo”. Existia uma promessa de um mundo melhor, uma nova terra uma outra vida “reencarnação”. Aqui surgem vários novos movimentos religiosos e do neopentecostalismo.

Anteriormente falamos de uma forma genérica que abrange o fenômeno religioso.

Trata-se agora do cristianismo. O Cristianismo, ao longo do século, tem sido abalado pelo impacto externo do ateísmo anticristão e pela força corrosiva interna do secularismo ateu.

O cristianismo foi combatido pelo ateísmo anticristão que considerava como forma supersticiosa, avessa à razão. De dentro do cristianismo surge um secularismo ateu, ligado a herança de J.Fiori (+1202).

O secularismo ateu suprime a Deus, sem abolir-lhe os atributos divinos.
A tradição Judaico-cristã veiculou elementos que permitiriam surgir no Ocidente em secularismo ateu e o progresso tecnológico na esteira de J.de Fiori.
Evidentemente a revelação judaico-cristã alcança o seu ponto mais alto com a Encarnação do Verbo Divino, assumindo a humanidade de Jesus Cristo. De Jesus Cristo pode-se dizer “Este homem é Deus”.
Diante dos acontecimentos os católicos e protestantes, percebem que o cristianismo nesse final de milênio já não se defronta tanto com o ateísmo como seu maior desafio, mas com essa religiosidade vaga, inquieta, pagã, fora das grandes instituições religiosas.

A Igreja Católica sofre no momento presente com o forte impacto dos movimentos religiosos. São ambas as manifestações que deixam a Igreja às voltas.

Um grande movimento que surge dentro da Igreja hoje é conhecido como, Renovação Carismática Católica. Um fenômeno explicável pela trajetória teológica e institucional da Igreja Católica no Ocidente. Um movimento de grande massa, um povo que busca na raiz, as expressões pentecostais. Seu carisma principal é a Efusão do Espírito (falar em outras línguas, língua dos Anjos). Anos atrás essa espiritualidade também gerou grande problema para a Igreja, principalmente na América Latina, onde a espiritualidade que havia era libertadora. O Cardeal Ratzinger (hoje Papa Bento XVI) não hesitou em dizer que o aparecimento de novos movimentos “abre espaço à esperança em nível de Igreja universal”, que “nela se manifesta, ainda, ainda que discretamente, algo com o um período de pentecoste na Igreja”. (J. Ratzinger-V Messori, A fé em crise? O Card. Ratzinger se interroga, São Paulo, EPU, 1985:27.).
O cristianismo em geral, e a Igreja Católica, em particular, vêem-se chamados a praticar com lucidez esse discernimento pastoral e social.
Podemos então aqui perguntar: Por que os homens fazem religião?. Algo difícil de ser dito e respondido. Foi proposta no século passado, a teoria que a religião nada mais era que uma reminiscência que o homem guardava de um período primitivo do seu desenvolvimento. Acrescentava-se que o homem estava aos poucos se educando para a realidade, e dentro em breve deixa para trás, definitivamente, as suas ilusões religiosas, as mais primitivas.
Muitas das expressões do fenômeno religioso que vemos, nos é apresentado como qualquer coisa. Há mitos que se cristalizaram, ritos que se solidificaram, instituições que se chamam religiosas e linguagens que falam acerca dos deuses. Por detrás disso, elas são as fontes de onde surge não a religião mas a racionalização da religião. Pergunta-se: Que é o que caracteriza a consciência religiosa?
Em resumo a consciência religiosa é uma expressão da imaginação. É a própria consciência religiosa que afirma: “Ninguém jamais viu a Deus”.
Por exemplo, os animais não têm imaginação, por isso nunca produziram arte, profetas ou valores e tampouco produziram religião. A religião tema sua base na diferença essencial entre o homem e os brutos – os brutos não tem religião, porque a imaginação é a origem da criatividade humana.
A imaginação é a consciência de uma ausência, a saudade daquilo que ainda não é, a declaração de amor pelas coisas que ainda não nasceram.
A imaginação nos revela as intenções mágicas que habitam os níveis mais profundos da personalidade. O ato da imaginação observa Sartre, é um ato mágico. É um encantamento destinado a produzir o objeto que desejamos, de forma que dele possamos nos apropriar.
Agora, entraremos nas formas de expressão religiosa, e uma delas é o rito. Do ponto de vista religioso o ritual é uma característica que esta em todas as religiões. Vários elementos podem ser caracterizados no seu ritual (preparação do lugar, objetos ou utensílios, atores entre outras). O rito é todo simbólico, todo rito é uma linguagem e todo rito é uma ação.
Rito aparece como uma norma que guia todo o desenvolvimento de uma ação sacra. O rito se torna uma prática periódica. A palavra latina ritus é próxima da palavra sânscrito-védica rta (Rita), a força da ordem cósmica sobre a qual velam divindades.

Isso indica que o rito não é somente uma ação humana mas também uma ação divina. Já o rito está entre o “entre” o símbolo e o mito, quer dizer, uma participa do outro. O rito é equivalente ao mito. O mito recita (é um legómenon) o que o rito converte em cena teatraliza (é um drômenon, de drao “fazer”, que também origina a palavra drama).


à Símbolo/imagem à Mito = discurso (legómenon)

Coisas

à Simbolo/gesto à Rito = ação (drómenon)


O mito relata uma ação divina que difunde na realidade presente em um contexto de sacralidade. Mas é no rito que essa expressão se torna em um ato litúrgico.
Toda ritual precisa de um grupo de pessoas, um lugar sagrado, objetos, vestes e outros, assim o mito dá ao rito um sentido. Podemos assim ver na Bíblia a variedades de mitos e ritos que o povo de Israel realizava. Assim “mitos é historias contadas pelos profetas e demais pessoas, e os diversos ritos realizados como os sacrifícios de animais etc”.
A principio os ritos são classificados pela finalidade. Émile Durkheim propõe uma divisão em três classes:

Ritos negativos (tabus, ascese, jejum).
Ritos positivos (oferendas, comunhão oração).
Ritos expiatórios (expiação e propiciação).

Já para Norman Habel, distingue:

Rito de reforço da energia vital (caça, pesca, guerra).

Ritos de redução da energia vital (práticas de bruxaria)

Ritos apotropaicos (isto é, de proteção contra os maus espíritos).

Ritos de purificação e cura (ablução, lustração, batismo de fogo).

Ritos de adivinhação (por meio de ossos, entranhas de animais, oráculos).


Nisso também temos variado ritos no judaísmo, cristianismo etc.

Rito das festas anuais (judaísmo e cristianismo) festa do Pessah, festa da colheita, festa do tabernáculo, festa de Cristo Rei, Natal, Semana Santa etc.

Há também o rito do sacrifício. Ritos dos ritos, o sacrifício é o fato religioso mais típico, mas ao mesmo tempo o mais difícil de ser compreendido.

A palavra latina sacrificium está relacionada ao “fazer com que alguma coisa seja sagrada” (sacrum facere). Sacrificar é converter em sagrado o que é entendido como a “oferenda” do sacrifício.

Podemos compreender que a chave do sacrifício é a vida oferecida (Jesus se deu ao sacrifício) e a chave desta vida é o divino, fator decisivo sem o qual a ação sagrada não teria sentido.
O Sacerdote realiza o ato do sacrifício, ou melhor, o ato litúrgico. Ele é o sujeito que apresenta a oferenda e recebe o dom divino para tal. Na tradição Católica o sacerdote realiza o sacrifício da missa para um grupo de pessoa. Mediante a oferenda ou a vitima existem os atores principais.


DEUS
OFERENDA VITIMA
divino --------------------------------------------------------- SACRIFICADOR

OFERENDA VITIMA


OFERENDA VITIMA


OFERENDA VITIMA

profano


SACRIFICANTE


Agora veremos o quadro religioso em que se encontra o Brasil.
O Brasil depois de uma pós-redemocratização passa por uma transição econômica, cultural e política, na qual o fator religioso não pode ser descurado.
Diversas igrejas, movimento religiosos surgiram no país como: Igreja Evangélica Assembléia Deus que exportamos para Moscou, Igreja Universal do Reino de Deus que exportamos para Paris e a Umbanda para o Cone Sul.

Já o Catolicismo romano oficial tem em vista a diversidade de seu papado. Diante disso o catolicismo vem buscando retomar sua liderança no Brasil e na América Latina. Mas hoje chama a atenção as manisfetações realizadas pelos pentecostais, na liderança política e nos interesses pelo os meios de comunicação. Uma visão capitalista da sociedade atual.
Pode-se dizer que no Brasil a sua matriz religiosa é diversificada e única, devido às várias expressões culturais e religiosas no país.

Somos de um país brigas religiosas como, por exemplo, entre a Igreja Católica e Igrejas Protestantes, devido às diferenças no seu modo de entende e evangelizar. Entre Igrejas Protestantes e as Religiões Afros-descendentes.

Existe no Brasil diversas matrizes protestantes pentecostais devido seu crescimento, mas também um grande crescimento destas outras igrejas que se destaca-se pelo conhecimento através da mídia etc, são: Assembléia de Deus, Igreja Universal do Reino de Deus (pode ser considerada pentecostal?), Renascer em Cristo etc.

Um caso preocupante é que nas últimas décadas houve um grande crescimento de ataques às religiões afro-brasileiras feitas pelas igrejas neopentecostais, que levam a se tornar em uma “guerra santa ou batalha espiritual”, uma luta do bem contra o mau, devido às representações consideradas como demônios. Já que as Igrejas neopentecostais, pentecostais são consideradas, como igrejas das curas milagres etc.
Mas podemos nos perguntar: Por que as escolha dessas religiões como alvo principal?.
Essa briga deve-se a diversos movimentos que tem um vinculo com a sociedade e mantém um importante valor histórico. A Igreja Universal do Reino de Deus a exemplo de declarar uma guerra aberta é devido ao interesse de quebrar um monopólio religioso. Ela tem uma visão proselitista. Sua linguagem é não é muito diferente de uma sociedade capitalista que pensa somente na sua importância. Para IURD e para as Igrejas neopentecostais, a expressão das religiões afro, como o Candomblé, Umbanda e o espiritismo em geral são considerado demoníacos.

Nesse impasse religioso de muitas criticas até os dias atuais, o bispo Edir Macedo, presidente geral da IURD, lança seu livro: Orixás, caboclos e guias, deuses ou demônios?, numa grande criticas ao candomblé, e a todas as entidades que recebem os nomes de orixás, sejas eles; ogum, exu, oxum, etc.
Com isso as igrejas neopentecostais arranham o Brasil, com suas inseguranças, em um país de grande sincretismo religioso e cultural.

Tendo toda essa pluralidade religiosa, podemos dizer que a sociedade brasileira é marcada por profunda diversidade de práticas religiosas.

Nisso temos o declínio do catolicismo e crescimento dos grupos de cunho evangélico pentecostal. Além das mais diferentes possibilidades de vivenciar o cristianismo, como práticas variadas do catolicismo e as multiplicações dos evangélicos, das tradições afro-brasileiras como candomblé e xangô, da umbanda e do espiritismo. Outras como novas expressões como Santo-Daime e a Ordem Espiritualista Cristã (Vale do amanhecer), Nova Era, Wicca, a Ordem Rosa Cruz (AMORC) Igreja da Cientologia, Nova Acrópolis, entre tantos outros.

Para concluir, no futuro, história cobrará das religiões a contribuição que deram ou os obstáculos que colocaram para uma sociedade humanizada. Assim, nos dias atuais, a mediação do diálogo entre as Igrejas cristãs e entre as religiões deve ser a própria vida, caso contrário, perderam a sua credibilidade e a sua razão de ser.

BIBLIOGRAFIA

LEITURA DE TEXTOS – Filosofia da Religião. Apostila desenvolvida pela Professora CLAUDETE ARAUJO.

GUERRIERO, Silva. Novos movimentos religiosos: o quadro brasileiro. São Paulo: Paulinas, 2006 – Coleção temas do ensino religioso.

Um breve comentário sobre: A Pedagogia da Esperança - Paulo Freire

Paulo Freire, pensador brasileiro, é autor de uma vasta obra que, ultrapassando as fronteiras do país, espalhou-se por diferentes países da Europa, da América e da África.
Segundo Paulo Freire, a educação é uma prática política tanto quanto qualquer prática política é pedagógica. Não há educação neutra. Toda educação é um ato político. Assim, sendo, os educadores necessitam construir conhecimentos com seus alunos tendo como horizonte um projeto político de sociedade. Os professores, são, portanto, profissionais da pedagogia da política, da pedagogia da esperança.
Sua pedagogia tem sido conhecida como Pedagogia do Oprimido, Pedagogia da Liberdade, Pedagogia da Esperança. Paulo Freire é autor de uma vasta obra, traduzida em vários idiomas. Em seus trabalhos, Freire defende a idéia de que a educação não pode ser um depósito de informações do professor sobre o aluno. Esta "pedagogia bancária" , segundo Freire, não leva em consideração os conhecimentos e a cultura dos educadores. Respeitando-se a linguagem, a cultura e a história de vida dos educandos pode-se levá-los a tomar consciência da realidade que os cerca, discutindo-a criticamente. Conteúdos, portanto, jamais poderão ser desvinculados da vida.
Paulo Freire cultiva o nexo escola/vida, respeitando o educando como sujeito da história. As pessoas podem não ser letradas mas todas estão imersas na cultura e, quando o educador consegue fazer a ponte entre a cultura dos alunos, estabelece-se o diálogo para que novos conhecimentos sejam construídos.
A base da pedagogia de Paulo Freire é o diálogo libertador e não o monólogo opressivo do educador sobre o educando. Na relação dialógica estabelecida entre o educador e o educando faz-se com que este aprenda a aprender. Paulo Freire afirma que a " leitura do mundo precede a leitura da palavra", com isto querendo dizer que a realidade vivida é a base para qualquer construção de conhecimento. Respeita-se o educando não o excluindo da sua cultura, fazendo-o de mero depositário da cultura dominante. Ao se descobrir como produtor de cultura, os homens se vêem como sujeitos e não como objetos da aprendizagem.
A partir da leitura de mundo de cada educando, através de trocas dialógicas, constroem-se novos conhecimentos sobre leitura, escrita, cálculo. Vai-se do senso comum do conhecimento científico num continuo de respeito.
A educação, segundo Freire, deve ter como objetivo maior desvelar as relações opressivas vividas pelos homens, transformando-os para que eles transformem o mundo.
Paulo Freire é um educador com profunda consciência social. Mais do que ler, escrever e contar, a escola tem tarefas mais sérias - desvelar para os homens as contradições da sociedade em que vivem. Paulo Freire além de sua obra de pensador, tornou-se conhecido pelo método de alfabetização de adultos que criou, conhecido como Método de Alfabetização Paulo Freire.

Os pré-socráticos

Os pré-socráticos são filósofos que viveram na Grécia Antiga e nas suas colônias. Assim são chamados pois são os que vieram antes de Sócrates, considerado um divisor de águas na filosofia. Muito pouco de suas obras está disponível, restando apenas fragmentos. O primeiro filósofo em que temos uma obra sistemática e com livros completos é Platão, depois Aristóteles. São chamados de filósofos da natureza, pois investigaram questões pertinentes a esta, como de que é feito o mundo. Romperam com a visão mítica e religiosa da natureza que prevalecia na época, adotando uma forma científica de pensar. Alguns se propuseram a explicar as transformações da natureza. Tinham preocupação cosmológica. A maior parte do que sabemos desses filósofos é encontrada na doxografia de Aristóteles, Platão, Simplício e na obra de Diógenes Laércio (século III d. C), Vida e obra dos filósofos ilustres. A partir do século VII a.C., há uma revolução monetária da Grécia, e advêm a ela inovações científicas. Isso colaborou com uma nova forma de pensar, mais racional. Os pré-socráticos inspiraram a interpretação de filósofos contemporâneos como Nietzsche, que nos iluminou com a sua obra A filosofia na época trágica dos Gregos e Hegel, que aplicou seu sistema na história da filosofia. Tales de Mileto- (+ ou- 640-548 a. C) Tales é considerado o pai da filosofia grega, o primeiro homem sábio. Foi um homem que viajou muito. Os pensadores de Mileto iniciaram uma física e uma cosmologia. O universo era considerado um campo com pares opostos das qualidades sensíveis. É de Tales a frase de que á água é a origem de todas as coisas. Tudo seria alteração da água, em diversos graus. O alimento de toda a coisa é úmido. Aristóteles afirmou que ele foi o primeiro a atribuir uma causa material para a origem do universo. Também era matemático, geômetra e físico. Aparece nas listas dos Sete Sábios da Grécia. Outra frase que pode ser dele é a de que tudo está cheio de deuses, ou seja, a matéria é viva. Dizem que previu um eclipse solar e calculou a altura de uma pirâmide. Em Aristóteles há um trecho dizendo que era sabido ser uma afirmação de Tales que a alma é algo que se move. Teve como discípulo Anaximandro.Anaximandro (+ ou - 610-547 a. C) é um filósofo da escola jônica, natural de Mileto e discípulo de Tales. Foi geógrafo, matemático, astrônomo e político. Escreveu um livro, Sobre a natureza, que se perdeu. É considerado autor de um mapa do mundo habitado e iniciador da astronomia. Afirmou que a origem de todas as coisas seria o apeíron, o infinito. O mundo se dissolveria nele também. É apenas um mundo dentre muitos. Ao contrário de Tales não deu à gênese um caráter material. O apeíron é eterno e indivisível, infinita e indestrutível. O princípio é o fundamento da geração de todas as coisas, a ordem do mundo evoluiu do caos em virtude deste princípio. Teve como discípulo Anaxímenes.

Anaxímenes- (+ ou - 588-524 a.C.) foi um filósofo da escola jônica, que tem como característica básica explicar a origem do universo ou arché a partir de uma substância única fundamental. Refutando a teoria da água de Tales, e do ápeiron de Anaximandro, Anaxímenes ensinava que essa substância era o ar infinito, pneuma ápeiron. O universo resultaria das transformações do ar, da sua rarefação, o fogo, ou condensação, o vento, a nuvem, a água e a terra e por último pedra. Esse era o processo por qual passava uma substância primordial, e resultava na multiplicidade, os quatro elementos. O ar tinha o eterno elemento. Escreveu uma obra, como Anaximandro: Sobre a natureza. Dedicou-se à meteorologia, foi o primeiro a considerar que a lua recebe a luz do sol. Era companheiro de Anaximandro. Hegel diz que Anaxímenes ensina que nossa alma é ar, e ele nos mantém unidos, assim um espírito e o ar mantém unido o mundo inteiro. Espírito e ar são a mesma coisa.
A substância da origem volta a ser uma coisa determinada como em Tales. Anaxímenes identificou o ar talvez porque tenha visto seu movimento incessante, e que a vida e o ar andam juntos, na maioria dos casos. A respiração é um processo vivificante, dependemos dela durante toda a nossa vida. Ele via que no céu existem nuvens, e que a matéria possui diferentes graus de solidez.
Outra frase que consta nos fragmentos é "O sol largo como uma folha".

Pitágoras (século VI a.C.) Conhece-se muito pouco sobre a vida desse filósofo, pois foi uma figura legendária, e é difícil distinguir o que é verdade e o que é mentira. Nasceu em Samos, em uma época em que na Grécia estava instituído o culto ao deus Dioniso. Os órficos (de Orfeu) acreditavam na imortalidade da alma e em reencarnação (metempsicose), e para se livrar desse ciclo, necessitavam da ajuda de Dioniso, deus libertador. Pitágoras postulou como via de salvação em vez desse deus, a matemática. Acreditava na divindade do número. O um é o ponto, o dois determina a linha, o três gera a superfície e o quatro produz o volume. Os pitagóricos concebem todo o universo como um campo em que se contrapõe o mesmo e o outro. É de Pitágoras o teorema do triângulo retângulo. Fundou uma seita, em que a salvação dependia de um esforço humano subjetivo, e que tinha iniciação secreta. Os números constituem a essência de todas as coisas segundo sua doutrina, e são a verdade eterna. O número perfeito é o dez, por causa do triângulo místico. Os astros são harmônicos. Foi Pitágoras que inventou a palavra filosofia - (amizade ao saber).
A escola de Pitágoras gerou os pitagóricos, que procuraram aperfeiçoar o sistema filosófico original. Eles floresceram em uma colônia grega na Itália. Pregavam o ideal da salvação do homem, tinham um caráter místico e espiritualista, e davam à matemática um caráter matemático.
Muitos filósofos foram também matemáticos, que atribuem ao universo a lógica dos números e em muitos pontos de sua doutrina buscam a matemática para fundamentar a sua lógica. É uma visão mecanicista, que identifica no mundo o raciocínio matemático. Platão exaltava a geometria, por essa ter um caráter
abstrato. Outros filósofos matemáticos importantes foram Descartes, Leibniz e Bertrand Russel. Spinoza escreveu um livro chamado A ética demonstrada pelo método geométrico, que é o método euclidiano de expor.

Xenófanes, de Colofão -(século IV a. C) atribui-se a ele a fundação da escola de Eléia. Levou vida errante, passou parte dela em Sicília, tendo fugido de sua terra natal por causa da invasão dos medas. Alguns duvidam de sua ligação com Eléia. Em seus fragmentos defendeu um deus único, supremo, que não tinha a forma de homem. Realçou isso afirmando que os homens atribuem aos deuses características semelhantes a eles mesmos, que mudam de acordo com o povo. Se os animais tivessem mãos para realizarem obras, colocariam nos deuses suas características. Restaram de suas obras alguns fragmentos, sendo que uns satíricos. Foi contra a grande influência de Hesíodo e Homero (historiador e escritor gregos). Zombou dos atletas, preferindo a sua sabedoria aos feitos atléticos, que não enchiam celeiros. O deus segundo Xenófanes está implantado em todas as coisas, o todo é um, e é supra-sensível, imutável, sem começo, meio ou fim. Teve como discípulo Parmênides.
Segundo Hegel os gregos tinham apenas o mundo sensível diante de si, e não encontravam satisfação nisso. Assim jogavam tudo fora como sendo não verdadeiro, e chegavam ao pensamento puro. O infinito, Deus, é um só, pois se fosse dois haveria a finitude. Hegel identifica a dialética* em Xenófanes, uma consciência da essência, pura, e outra de opinião, uma sobrepondo a outra, indo contra a mitologia grega.

*Dialética - Em Platão a dialética é o processo pelo qual a alma se eleva, em degraus, da realidade sensível ao mundo das idéias. É um instrumento de busca da verdade.
Em Hegel, é o movimento racional que nos permite superar uma contradição. Assim, na história vemos uma tendência, e a ela volta-se uma oposição, criando uma tensão, que é superada por uma nova tese que traz a solução. É o movimento tese, antítese e síntese. Não se restringe apenas a história, mas deve ser encarada como parte do real, uma forma de pensar evolutiva.
Heráclito- (+ ou - 540-470 a. C) nasceu em Éfeso, cidade da Jônia, descendente do fundador da cidade. É considerado o mais importante dos pré-socráticos. É dele a frase de que tudo flui. Não entramos no mesmo rio duas vezes e o sol é novo a cada dia. É o filósofo do devir, a lei do universo, tudo nasce se transforma e se dissolve, e todo o juízo seria falso, ultrapassado. Desprezava a plebe, não participou da política e desprezou a religião, os antigos poetas e os filósofos de seu tempo. É o primeiro pré-socrático com um número razoável de pensamentos, que são um tanto confusos, e por isso tem o nome de Heráclito, o obscuro. São aforismos. Foi muito crítico. Chama a atenção, além da pluralidade, para os opostos. Tanto o bem como o mal são necessários ao todo. Deus se manifesta na natureza, abrange o todo e é crivado de opostos. O logos é o princípio cósmico, elemento primordial, e a razão do real, a inteligência. A verdade se encontra no devir, não no ser. Com sentidos poderosos, poderíamos vê-lo. O pensamento humano participa e é parte do pensamento universal. O fogo é eterno, um dia tudo se tornará fogo. O sol seria da largura de um pé humano. A felicidade não está nos prazeres do corpo. A morte é tudo que vemos despertos, e tudo o que vemos dormindo é sono. Existe a harmonia visível e a invisível. A alma não tem limites, pois seu logos é profundo e aumenta gradativamente. O pensar é comum a todos. A terra cria tudo, e tudo volta para ela.
Hegel identifica em Heráclito a dialética: Heráclito concebe o absoluto como processo, com a dialética, exterior, um raciocinar de cá para lá e não a alma da coisa da coisa dissolvendo-se a si mesma, a dialética imanente do objeto, situando-se na contemplação do sujeito, objetividade de Heráclito, compreendendo a dialética como princípio. O ser não é mais que o não ser. O fogo condensa-se, e apagado vira água. Encontramos em Heráclito algo comum entre os sábios: o desprezo pelo populacho, (como era comum Nietzsche dizer) e instituições dominantes. Teria sua experiência lhe dado base para isso?
Ele pode ter contemplado com os seus próprios olhos o devir, movimento inteligente do universo e maravilhoso. Encontrou fogo na alma humana, comparou-a com uma chama que se apaga na morte. Identificou o infinito na natureza, não apenas o matemático, mas o que constitui a essência das coisas. Pois todas as coisas têm uma essência, e o fluxo da alma é tão fundo que não tem fim.

Parmênides- (+ ou - 544-450 a. C) filósofo da escola eleática, da região de Eléia, hoje Vília, Itália. Foi discípulo de Amínisas. Conheceu a filosofia de sua época. Escreveu um poema, cujo preâmbulo tem duas partes, a primeira trata da verdade, a segunda da opinião. Suas conclusões são contrárias às de Heráclito, seu contemporâneo. Na primeira parte do poema proclama a razão absoluta, que é o discurso de uma deusa. Para se chegar à verdade não podemos confiar nos dados empíricos, temos de recorrer à razão. Desta forma nada pode mudar, só existe o ser, imutável, eterno e único, em oposição ao não ser. Teve como discípulo Zenão, também de Eléia.
Segundo Nietzsche, foi em um estado de espírito que Parmênides encontrou a teoria do ser, considerando o vir a ser. Pensou: algo que não é pode vir a ser? Não. - Temos de ignorar os sentidos e examinar as coisas com a força do pensamento. O que está fora do ser não é o ser, é nada, o ser é um.
Ao colocar como “imperativo categórico” o ser, e com ele a verdade que se chega na razão, Parmênides inaugura uma manifestação humana de conseqüências funestas. A refutação dos dados empíricos, em favor do que pode ser comprovado com a razão age sobre o resultado final dos mesmos. Assim, com o possível de ser explicado em primeiro plano, deixamos de lado um aspecto da percepção: a mudança, pois mudar é deixar de ser. O devir, nesses parâmetros é uma ilusão, o fluxo da natureza também e o que é confiável é aquilo que é assimilado e compreendido. Põe se barreiras na percepção pura, que provêm da mente aberta, para usar um termo de Aldous Huxley.

Zenão, de Eléia - (século V a. C) cerca de quarenta anos mais jovem que o seu mestre e conterrâneo Parmênides. Nasceu na Eléia, e interviu na política, dando leis à sua pátria. Zenão teria deixado cerca de quarenta argumentos, sendo que nove foram conservados pelo doxógrafos. São dispostos em problemas de grandeza, do espaço, do movimento e da percepção sensível. Ele parte da divisibilidade infinita do espaço, pois um corpo percorrendo um espaço infinito em um tempo finito estaria imóvel. Seus argumentos constituem-se verdadeiras aporias (caminhos sem saída), indo até ao absurdo. Foi considerado por Aristóteles o inventor da dialética, no sentido de diálogo que parte das premissas do adversário e o põe em contradição, numa posição insustentável. Defendeu as teorias do ser de seu mestre, Parmênides, contra os seus adversários, notoriamente os pitagóricos, que pregavam o ser múltiplo e divisível. O infinito não pode ser percorrido num tempo finito, só em um tempo infinito. Seus argumentos ficaram conhecidos como paradoxos de Zenão.
Paradoxo de Aquiles: o mais lento na corrida jamais será alcançado pelo mais rápido, pois o que persegue deve sempre começar a atingir o ponto de onde partiu o que foge. Outro argumento pretende afirmar que uma flecha está em repouso ao ser projetada. É a conseqüência da suposição de que o tempo seja composto de instantes.
Ele demonstra que quando há o múltiplo, há o grande e o pequeno. Quando grande, o múltiplo é infinito, segundo a grandeza.
Para Hegel, a dialética de Zenão possui mais objetividade que a atual. Ele ainda se conteve com os limites da metafísica.
Segundo muitas lendas, tornou-se célebre em sua morte, quando salvou um Estado de seu tirano, sacrificando sua vida, pois foi torturado e não delatou seus companheiros de conjura. Por isso foi assassinado.

Empédocles- (+ ou - 490- 435 a. C) natural de Agrigento na Sicília. A democracia estava em fase de implantação e ele a defendeu. Virou figura lendária, um misto de cientista, de místico, de pitagórico e órfico. Escreveu dois poemas. No primeiro apresenta uma única visão do processo cosmogônico, e o segundo é religioso. Refutou as teses que atribuem a origem do universo a um único elemento.
Identificou quatro substâncias básicas, que ele chamou de raízes: a água, a terra, o fogo e o ar. Tudo se consiste desses quatro elementos, e as transformações que advêm a eles seriam visíveis a olho nu.
Essas substâncias são eternas, imutáveis. Jostein Gaardner afirma que talvez Empedócles tenha visto uma madeira queimar, alguma coisa aí se desintegra. Alguma coisa na madeira estala, ferve, é a água, a fumaça é o ar, o responsável é o fogo, e as cinzas são a terra. As verdades não seriam mais absolutas, como nos eleatas, mas proporcionais à medida humana. As coisas são imóveis, mas o que percebemos com os sentidos não é falso. Duas forças atuariam nas substâncias, o amor e o ódio. O amor agiria como força de atração e união, o ódio como força de dissolução. Em quatro fases, existe a alternância do amor e do ódio. Estabelece um ciclo, com a tensão da convivência dessas forças motrizes.
Empédocles dizia que alguns animais vêem melhor de dia do que de noite, e vice versa. O pensamento se produz com a sensação.
Admitiu a multiplicidade de itens de uma criação, como um pintor que mistura diferentes pigmentos em sua obra. Fala muito da deusa do amor Afrodite, portadora da vida e da beleza. Em sua filosofia todos os animais têm pensamentos. A inteligência cresce de acordo com os dados sensoriais do tempo presente.
Hegel afirma que para Empédocles, outros elementos que não os quatro básicos, não são em si e para si. Não poderíamos visualizar o mundo sem os quatro elementos básicos. Nietzsche traça um perfil de Empédocles: cabelos longos, sandálias de couro nos pés e uma coroa na cabeça. Com vestido cor de púrpura. É um filósofo trágico, pessimista, ativo. Queria provar que era um deus, atribuía-se qualidades místicas. Todos os movimentos, segundo ele nasceram de uma natureza não mecânica, mas levam a um resultado mecânico.
Conta a lenda que se atirou no vulcão Etna para provar que era um deus.

Anaxágoras-(+ ou - 499-428 a. C)- filósofo da escola jônica nascido na Ásia menor, foi o primeiro filósofo a se transferir para Atenas, de onde foi banido por considerar o sol uma pedra incandescente e a lua uma Terra, negando a divindade desses corpos celestes. Interessava-se muito por astronomia. Houve um processo que acabou por condena-lo, apesar de ser amigo de Péricles, seu mestre e protegido. Péricles foi um grande líder político. Sócrates que nasceu cerca de trinta anos depois de Anaxágoras também foi condenado. Atenas considerava a novidade, a filosofia, uma impiedade e ateísmo. Anaxágoras se recusava a prestar culto aos grandes deuses gregos. Era filho de Hegesibuldo. Disse que as coisas corpóreas eram infinitas, e elas pareciam engendrar-se e destruir-se pela combinação e dissolução. No início, todas as coisas seriam infinitas em quantidade e pequenez, pois o pequeno também era infinito. Toda a matéria estava condensada. O ar e o éter são o maior conjunto de coisas. Muitas coisas de todas as espécies são contidas em todos os compostos e sementes. Em tudo há um pouco de tudo. Em cada minúscula partícula, ou semente, há uma parte de todas as coisas, pois todas as coisas são formadas por essas sementes. Essas coisas se resolviam e separavam pela força e rapidez, a força é a rapidez que produz. E o espírito começou a se mover, e em todo movimento havia uma separação, e as partículas se desdobravam, o espírito sempre é, sempre afirma. O compacto, o fluído, o frio e o sombrio se colocaram onde se formou a terra, e o ralo o quente e o seco forma para longe do éter. As visões das coisas invisíveis são aparentes, a lua reflete os raios de sol, em sua filosofia. E as coisas, que estavam juntas foram separadas por esse espírito inteligente e puro (nous), que ordenava a matéria e se movia, separando os opostos e criando os seres diferenciados. Os graus de inteligência dos seres animados (animais e plantas) dependem da estrutura do corpo em que o nous está ligado sem se misturar. Para Hegel, Anaxágoras foi um sóbrio entre os ébrios. Fundamenta sua crítica dizendo que ele foi o primeiro a dizer que o pensamento é universal, em si e para si, o puro pensamento é verdadeiro. Universal pela noção de causalidade. Essa noção, se não é universal, se não considera a coisa em si, costuma dizer coisas como: a causa da existência do capim é servir de alimento para os herbívoros, e a destes é servir de alimento para os carnívoros, os troncos fluem para determinado lugar, pois estão precisando deles lá e assim por diante. O nous de Anaxágoras é universal, move-se para diante. Cada idéia é um círculo de si mesma, e o bem universal de sua espécie. O nous é a alma que a tudo move, que liga e separa, uma atividade que põe uma primeira determinação como subjetiva, mas essa é feita objetiva, e assim se torna outra, e de novo esta oposição é sobreposta, assim até o infinito. Isso é dialética.

Leucipo-(século V a. C) Filósofo grego, criador da teoria atomista, que foi desenvolvida por Demócrito. É considerado discípulo de Zenão, mas também especula-se sobre ser na verdade discípulo de Parmênides e Melisso*. Atribuem a Leucipo uma obra: A Grande ordem do Mundo. Neste livro diz que nenhuma coisa
se engendra ao acaso, mas a partir da razão e da necessidade. Seria natural de Mileto ou Eléia.
Segundo Hegel, Leucipo concebeu a determinabilidade não de modo superficial, mas de maneira especulativa. Haveria no mundo a matéria e o vazio. A matéria é constituída de átomos, que se movem em torvelinho. O absoluto é o átomo, o verdadeiro. O um e o princípio são abstratos. Princípio do um é ideal, o pensamento é a essência das coisas. Sua filosofia, para Hegel, não é empírica. Os átomos movem-se por necessidade, se chocam e se rechaçam. São distintos entre si pela ordem e pela posição.
Leucipo queria aproximar o pensamento do fenômeno e da percepção sensível, para Aristóteles. A alma também se constituiria de átomos.
Leucipo explicou o fenômeno do peso de acordo com o tamanho dos átomos e suas combinações. Os átomos seriam partículas minúsculas e indivisíveis por sua pequenez. O mundo teria a parte cheia e a parte vazia. Foi o primeiro a conceber uma parte vazia no universo. A parte cheia seria constituída de átomos. Rejeitou a descoberta dos pitagóricos de que a Terra é esférica.

*Melisso - floresceu em cerca de 444/41 a.C. Nasceu em Samos, ilha do mar Egeu, e era filósofo e político, tendo derrotado os atenienses com uma esquadra que comandou. Defensor de Parmênides, atacou Empédocles. Escreveu um poema, Sobre o ser. Disse que o todo é imóvel, pois se movesse haveria vazio e o vazio é um não ser. Para ele tudo sempre existiu, e sempre existirá. O mundo é infinito.

Demócrito- (+ ou - 460-370 a. C) nasceu em Abdera (Trácia). Foi discípulo e sucessor de Leucipo, desenvolveu sus teoria atomista e participou da escola iniciada por seu mestre em sua terra natal. De sua vida sabem-se poucas coisas seguras, mas fala-se que viajou muito, recebeu homenagens de seus concidadãos. É famosa a tradição que lhe atribui um riso constante, presente para qualquer coisa. É um dos primeiros materialistas. Teria deixado cerca de noventa obras. Para resolver o impasse surgido nas teorias de Heráclito e Parmênides, desenvolve a teoria de que tudo seria composto por partículas minúsculas indivisíveis e invisíveis a olho nu, inclusive a alma. Os átomos da alma se desintegrariam no momento da morte. Portanto, não acredita na imortalidade da alma, embora gostasse de Pitágoras. Trabalhou muito, dizia que os trabalhos feitos de bom grado fazem mais leves as cargas dos impostos a contragosto. Na sua filosofia, o trabalho continuado torna-se mais leve por causa do átomo. Um trabalho bem feito e terminado dá mais satisfação que o descanso, e um trabalho em que não há retorno causa muito desprazer. O homem sensato dosa a avareza com o gasto, e suporta com brandura a pobreza. Quanto à forma, a emanação é igual às coisas. Os átomos são indivisíveis, pois se fossem divisíveis em partículas ainda menores. A natureza acabaria por se diluir. E como nada pode surgir do nada, são eternos. O movimento existe, pois o pensamento é movimento, e também os átomos se movem. Quando os átomos estão em equilíbrio, são tão numerosos que não podem mais se mover, os mais leves são repelidos para o vazio exterior (portanto, o vazio existe) e os outros permanecem juntos, formando um conglomerado. Cada um desses conglomerados que se separam das massas dos corpos é um mundo, e existem infinitos mundos. Esta é uma visão nietzscheana da teoria de Demócrito. A essência da alma está na sua natureza animadora, de movimento. A alma é feita de átomos sutis, que se movem, lisos e arredondados. O fogo faz parte da essência do homem. Se a respiração cessa, o fogo interior escapa, e ocorre a morte. O homem é infeliz porque não conhece a natureza. Temos de nos contentar com o mundo tal como ele é. Os átomos constituem a explicação última da natureza. Foi o mais lógico dos pré-socráticos. Nietzsche o considera um poeta, Aristóteles admira sua universalidade. Sua doutrina seguiu adiante, e temos outros atomistas, como Epicuro.


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